A cetamina é um anestésico, popularmente conhecido desde a década de 60, e estudos mais recentes apontam efeitos antidepressivos quando ministrados de forma endovenosa.
A principal diferença entre o tratamento com cetamina e o tratamento convencional é que a cetamina age no cérebro por meio do bloqueio do receptor NMDA e do aumento da disponibilidade de neurotransmissores, como o glutamato. Esse mecanismo de ação produz aumento na sinalização entre as células do cérebro, restaurando a função normal nessas regiões.
O que é o receptor NMDA?
O receptor N-metil-D-aspartato (NMDA) é um tipo de receptor ionotrópico que é ativado pelo Glutamato. Este receptor desempenha um papel na mediação de funções importantes do sistema glutamatérgico, como cognição, memória, plasticidade neural e neurotoxicidade.
Os receptores NMDA estão envolvidos em mecanismos de aquisição de memórias e aprendizado. Além disso, a ativação ou expressão anômala deste receptor pode contribuir para o desenvolvimento de doenças como Parkinson e Alzheimer.
E o que é o neurotransmissor glutamato?
O glutamato é um neurotransmissor que desempenha um papel importante na aprendizagem, memória, emoção e reconhecimento de dor. E o uso de cetamina interrompe o neurotransmissor glutamato e auxilia no reparo e reconstrução de circuitos cerebrais e aumentando o número de sinapses.
Diferente dos antidepressivos tradicionais, que aumentam os níveis de serotonina, noradrenalina ou dopamina no cérebro, a cetamina atua bloqueando um receptor NMDA, que faz parte do sistema glutamatérgico, o principal sistema excitatório do cérebro.
A cetamina age diretamente no sistema nervoso central e contribui para que seus efeitos sejam antidepressivos e ansiolíticos. Agindo diretamente nos receptores cerebrais, de forma que estimula a formação de novas conexões entre os neurônios, as sinapses e restaurando circuitos cerebrais que se encontram muito prejudicados em casos de depressão grave.
Este bloqueio impede a transmissão de sinais de dor, o que pode ajudar a aliviar a dor crônica. Além disso, a cetamina tem propriedades anti-inflamatórias, o que pode contribuir para seus efeitos analgésicos.
A cetamina também tem efeitos broncodilatadores, o que significa que pode ajudar a abrir as vias aéreas nos pulmões. Isso pode ser útil em situações onde as vias aéreas estão restritas ou inflamadas. Além das suas propriedades neuroprotetoras, o que significa que pode ajudar a proteger as células nervosas de danos. Isso pode ser particularmente útil em condições onde as células nervosas estão em risco, como durante a cirurgia ou em certas condições neurológicas.
A forma como a cetamina age no cérebro vem se mostrando como uma melhor alternativa ao tratamento, e sempre devemos considerar o histórico do paciente, as principais queixas e a expectativa da família, bem como o atual estado do paciente para a infusão. Quando existe um acordo entre médico e paciente, o paciente é preparado e quando o local é agradável e ele está acompanhado com pessoas de confiança, a experiência dissociativa é bem tolerada e o sucesso do tratamento já pode ser observado ao final da primeira infusão.
Reforçamos que a indicação e aplicação da cetamina deve ser feita por um profissional qualificado e dentro de ambiente hospitalar.
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Referências:
Kennedy, S. H. et al. Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT) 2016 clinical guidelines for the management of adults with major depressive disorder: Section 3. Pharmacological Treatments. Canadian Journal of Psychiatry 61, 540–560 (2016).
aan het Rot M, Collins KA, Murrough JW, Perez AM, Reich DL, Charney DS, Mathew SJ. Safety and efficacy of repeated-dose intravenous ketamine for treatment-resistant depression. Biol Psychiatry. 2010 Jan 15;67(2):139-45. doi: 10.1016/j.biopsych.2009.08.038. PMID: 19897179